8 settembre 2012

POM do Cone Sul: A importância da antropologia na evangelização

O Encontro de diretores e secretários das Pontifícias Obras Missionárias (POM) do Cone Sul que acontece desde quinta-feira, 6, em San Lorenzo, cidade a 12 Km de Assunção – Paraguai, dedicou espaço para refletir sobre os desafios culturais para a Nova Evangelização no âmbito do Ano da Fé.
O tema foi abordado pelo padre, Dr. Enrique Gaska, SVD, antropólogo polonês que há 15 anos trabalha no Paraguai, onde é membro da Coordenação Nacional da Pastoral indígena (CONAPI). Participam do Encontro representantes da Argentina, Uruguai, Chile, Brasil e Paraguai. O objetivo é partilhar o trabalho realizado pelas POM em cada país.
Na sua exposição, padre Enrique começou por definir o conceito de antropologia como “o estudo do ser humano dentro de um contexto social e cultural. A ciência se divide em especialidades, como por exemplo, antropologia linguística, social e cultural. A antropologia aplicada, por sua vez, refere-se à aplicação de práticas e teorias da antropologia para a análise e solução de problemas”, explicou.
“Quando entramos numa cultura diferente a primeira coisa que deveríamos fazer é aprender sobre essa cultura para não correr o risco de cometer atropelos. Aqui está a importância da antropologia para a missão. Aprender a língua e aspectos da cultura do povo facilita o trabalho”, destacou o antropólogo. “A Nova Evangelização postula um novo modo de expressar a mensagem evangélica para que seja compreensível ao ser humano hoje. Precisamos nos dar conta das mudanças socioculturais em curso no mundo contemporâneo, o que representa um desafio para a evangelização”, ponderou.
Aprender com profundidade os aspectos de uma determinada cultura requer tempo e aplicação. Perguntado sobre como enfrentar isso tendo presente a mobilidade dos missionários e missionárias, padre Enrique sugeriu a elaboração de projetos de Equipe que dê continuidade ao processo de evangelização ao longo do tempo.

Inculturação
Outro aspecto levantado foi o da inculturação na missão. O antropólogo explicou que “a inculturação não é um processo que fomenta a evangelização da cultura em detrimento ou substituição da evangelização da sociedade. A evangelização inculturada implica na relação entre fé, cultura e sociedade. Portanto, ela não se dá somente na transferência ou modificação de linguagens, métodos, ritos, símbolos, organização, de normas e modos externos. É preciso ir mais longe e chegar às raízes da cultura”, destacou.
Os tempos mudaram. “No passado, a expectativa que os missionários tinham ao ir para a missão era salvar almas. Os que iam para a missão tinham a ideia de que levavam algo bom e ao chegar à missão, o povo que os recebia se enchia de expectativas. Hoje, precisamos cuidar para não cairmos no etnocentrismo, ou seja, tentar impor a nossa cultura cristã e nossa cosmovisão”, afirmou o religioso para em seguida chamar atenção para o perigo do etnocentrismo, tendência de aplicar os próprios valores culturais para julgar o comportamento e as crenças das pessoas socializadas em outras culturas.

O golpe parlamentar no Paraguai
Por fim, padre Enrique traçou ainda algumas considerações sobre o estado de emergência e o golpe parlamentar no dia 22 de junho, no Paraguai, quando o então presidente Fernando Lugo, sofreu impeachment após rápido processo aberto no dia anterior pelos parlamentares do país. Lugo foi acusado de “má condução do governo”, depois de pelo menos 17 pessoas morrerem em um conflito agrário ocorrido no dia 15 de junho. Lugo foi condenado por 39 votos dentre os 43 senadores presentes da casa. O vice-presidente, Federico Franco, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), assumiu a presidência imediatamente. “Até hoje ninguém esclareceu as circunstâncias do confronto entre a polícia e os sem-terra. Os meios de comunicação distorceram os fatos apresentando os policiais mortos como heróis nacionais e os camponeses como delinquentes”, explicou padre Enrique.
O que chamou a atenção foi a rapidez do processo impedindo qualquer reação do povo que custou acreditar no que estava acontecendo. A segurança em Assunção foi reforçada e as estradas fechadas para impedir o deslocamento dos camponeses até a capital. O Paraguai foi excluído do Mercosul e da Unasul. Poucos países reconheceram o novo governo, dentre eles o Vaticano, Canadá e Panamá. A OEA até hoje não se pronunciou.
A Igreja no Paraguai mostrou-se dividida. Inicialmente a Conferência Episcopal publicou uma carta na qual solicitava calma e orações para o novo presidente aceitando o golpe. Depois voltou a trás e pediu desculpas o que revelou uma falta de consenso entre os bispos. Hoje, o povo, se manifesta através das redes sociais e não aprova a forma como o presidente Fernando Lugo foi destituído, mas faltam lideranças capazes de mobilizar o povo.
Para o diretor das POM do Paraguai, padre Walter Von Holzen, o fato de o povo poder emitir sua opinião pelas redes sociais é algo interessante. O problema que isso tem pouco efeito eleitoral. Contudo, segundo ele, “o importante é que após 60 anos de domínio da oligarquia, Lugo provou que é possível ganhar uma eleição”.
Ficou claro que houve um “golpe parlamentar” da oligarquia latifundiária e empresarial, com o apoio dos meios de comunicação e partidos de direita (Partido Colorado, UNACE, Patria Querida). Agora o país encontra-se dividido, embora o governo tente pasar a ideia de aparente ordem. Em maio de 2013 estão previstas novos eleições gerais no país.

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